V03C04 - A BELEZA DESTE MOMENTO - PARTE 02

Parte 02 – Caixão de gelo

Isso provavelmente foi um sonho, pensou Chtholly assim que ela acordou. Essa parecia ser a única explicação possível. Uma proposta? Mesmo que o mundo fosse virado de cabeça para baixo, essas palavras nunca sairiam da boca de Willem. Parecia muito pouco realista.

Mas ao perguntar a Nopht e Rhantolk sobre ontem, ela recebeu respostas como ‘eu o deixei pegar emprestadas as espadas desde que ele pediu’ e ‘ele voltou de tão bom humor que era assustador’, o que apenas mais distorceu a distinção entre realidade e sonho. O que diabos aconteceu aqui?

[Alguma coisa aconteceu com aquele Emnetwyte?], perguntou Rhantolk.

[N-N-N-N-Nada não se preocupe com isso], respondeu Chtholly com uma voz muito natural. Claro, ela não podia simplesmente dizer ‘acho que recebi uma proposta de casamento, mas não tenho certeza se foi um sonho ou não’. Fazer isso só conseguiria gargalhadas de Nopht e um olhar frio de Rhantolk.

Perguntar a Willem parecia ser a única opção viável. Ei você. Você me propôs em casamento ontem? Em segundo lugar, talvez não. Definitivamente não. Afinal, sua memória estava atuando recentemente estranha, então provavelmente era seguro assumir que era apenas um sonho.

[O que você acha que a felicidade é?]. Em vez disso, Chtholly tentou perguntar a Rhantolk uma pergunta que de repente surgiu em sua mente.

[Bastante filosófica essa questão. Você está planejando iniciar uma religião ou algo assim?].

[Não, só estou pensando em algo pessoal].

[Entendo]. Rhantolk fechou o livro que ela estava lendo e começou a pensar. [Bem, para começar, a felicidade significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Algumas pessoas estão felizes, desde que tenham comida suficiente. Alguns estão felizes se tiverem livros. Algumas pessoas precisam sempre estar vivendo a vida ao máximo. Algumas pessoas só conseguem esse sentimento de satisfação quando superam alguma barreira. Algumas pessoas estão felizes, enquanto os outros ao seu redor estão felizes e, inconvenientemente, alguns são exatamente os opostos disso].

[… Isso é verdade].

Existem todos os tipos de pessoas. Todos os tipos de corações e mentes. Todos os tipos de desejos. Isso significa que a felicidade pode assumir um número ilimitado de formas. Parece óbvio agora que Chtholly pensou sobre isso.

[Mas quase todas essas pessoas não sabem disso. Elas não sabem como sua felicidade é moldada. No entanto, todas elas afirmam quererem ser felizes, sem saber o que exatamente isso significa].

[Ah...].

[Mesmo que elas percebam que querem ser felizes, elas não conseguem se tornar felizes. O importante é não evitar os olhos de seu próprio coração. Isso responde sua pergunta?].

[Sim]. Para ser honesta, Chtholly não esperava uma resposta tão detalhada e estava meio estranha, mas é claro que não podia mencionar isso. [Obrigado].

Chtholly dirigiu-se à cafeteria para tomar um café da manhã. A pedido de Willem, as fadas agora podiam usar a cafeteria que todos os outros membros da tripulação usavam. Chtholly convidou Rhantolk para vir, mas ela recusou com a alegação de que ela não estava confortável em lugares onde havia muitos estranhos. Chtholly não estava com vontade de forçá-la e arrastá-la, então ela acabou indo sozinha.

O que a felicidade significa para mim? Chtholly perguntou novamente, tendo adquirido novos conhecimentos da Rhantolk. Imaginou colocar uma fatia de limão doce fervido em um pouco de pão e comer. A mistura estimulante de doce e azedo se espalhando por toda a boca... Pura felicidade. Com certeza parecia felicidade, mas provavelmente não era o que estava procurando.

Não ter nenhuma ambição, ou talvez tentar não ter ambições, era bastante comum para as fadas. Afinal, elas simplesmente não tinham tempo. Para alguém que nem sabe se elas estarão ou não vivas amanhã, ter sonhos sobre o futuro distante só pode trazer tristeza. Agora, mesmo que Chtholly não fosse mais uma fada de verdade, o mesmo princípio ainda se aplicava a ela.

Mas Willem se recusou a aceitar tal renúncia. Mesmo que alguém tivesse um futuro incerto, ele lhes diria para manter a cabeça erguida e sair correndo para o dia seguinte. Talvez fosse até um pouco cruel, mas Chtholly gostava dessa parte de Willem. Ela não podia fugir agora.

Medicamento com espinhos saindo. Uma lagartixa com olhos redondos. Produtos assados encharcados com água.

As imagens aleatórias inundaram sua mente. Embora tenha diminuído recentemente, a invasão parecia estar se movendo sem problemas. Talvez ela devesse ter ficado mais deprimida ao ser lembrada novamente de que não tinha futuro, mas Chtholly já havia se acostumado com isso. Agitando sua mão para trás e para frente para afastar os incômodos em sua mente, ela retomou seu pensamento.

Talvez o casamento tenha sido a chave, afinal. Um livro que ela leu antes dizia que o casamento é sinônimo de felicidade para uma mulher. Como ela não conhecia uma única mulher casada, Chtholly nunca estava realmente convencida dessa afirmação, mas talvez valesse a pena considerar. Ela lembrou-se desse plano estranho que Nygglatho contou outro dia. Seu plano de capturar Willem no armazém de fadas para sempre, dando-lhe uma família ou algo assim.

Chtholly entrou no modo ilusão. O cenário era o armazém de fadas, 10 anos no futuro. Willem tinha envelhecido um pouco... Ela não podia imaginar os detalhes... Provavelmente adicionou um bigode. Ao lado dele, uma Chtholly agora adulta. Entre eles estavam seus filhos de uma raça questionável. 2 meninos e 1 menina. Um dos meninos compartilhava muitas características de Chtholly, enquanto as outras duas crianças se pareciam com Willem. Todos os 3 estavam cheios de energia. Se ela desviasse o olhar, mesmo por um segundo, eles iriam correr e rolar ao redor e ficariam cobertos de lama. Então Chtholly os perseguiria, pegaria e os colocaria na banheira para um banho, enquanto Willem casualmente assava um bolo, dizendo algo como ‘a energia é o melhor remédio para crianças’.

A memória de Chtholly não era a tão boa, mas sentiu que essa situação dificilmente diferia da atual. Ela desligou a ilusão. Isso não era o que ela estava procurando. Parecia uma vida feliz, mas não necessariamente mais feliz do que o presente.

Uma criança de cabelos vermelhos rodando no chão rindo.


Cale a boca, vida anterior!
Chtholly gritou mentalmente. Não tenho tempo para lidar com você agora.

[Por que você está fazendo caretas engraçadas nesse pedaço de pão?]. Aparentemente, Nephren estava sentada ao lado dela, sabe se lá desde quando. [Você tem agido um pouco assustadora nos últimos minutos]. O pão ficou preso na garganta de Chtholly. Leite. Onde está o leite? [Willem disse algo para você?]. O leite desceu pelo caminho errado. [... Eu acho que isso é um sim].

Depois de se recuperar do engasgamento, Chtholly finalmente se acalmou um pouco. [O-O que faz você pensar isso?].

[Qualquer um poderia dizer isso apenas olhando para você]. A resposta de Nephren não deixou espaço para uma resposta. [Mas é por isso que estou preocupada], ela continuou enquanto cortava um pedaço de pão.

[Sobre o que?].

[Ultimamente, você e Willem pareciam gatos perdidos].

… Hã?

[Parece que você não quer falar sobre isso, então não pedirei os detalhes, mas algo aconteceu desde que seu cabelo começou a mudar de cor, estou certa?].

[Hm... Eu acho].

[Se você já pensou em falar sobre isso, não hesite em vir até mim. Talvez eu não consiga fazer muito, mas posso pelo menos ficar ao seu lado].

Com isso, Nephren parou de falar. [Ah... Obrigada]. Primeiro Ithea, agora Nephren. Chtholly realmente tinha amigas incríveis. Esquecendo sua situação por um momento, ela ficou dominada com um sentimento feliz.

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Isso foi provavelmente um sonho
, pensou Willem logo que ele acordou. Essa parecia ser a única explicação possível. Uma proposta? Mesmo que o mundo fosse virado de cabeça para baixo, essas palavras nunca saíam de sua própria boca. Parecia muito pouco realista.

[… Ou talvez não].

Vamos encarar a realidade, Willem disse a si mesmo. De volta a aquela sala fedida, abraçou Chtholly e disse aquelas palavras ridículas. Ele também sabia o motivo. Naquele momento, ele pensou que ele nunca iria querer deixá-la ir. Bem, não exatamente isso. Mais como se ele nunca a deixasse ir. Não, também não. Ele queria trazer sua felicidade para sempre.

... Vamos parar aqui. Quanto mais Willem pensava nisso, mais estranha à direção em que seus pensamentos começavam a vagar.

Havia algo mais urgente em sua mão. A ‘Kinslayer’ Desperatio. Os seres originais que serviram de base para as 17 Bestas. Juntando os dois, a resposta era simples. E provavelmente, mesmo que ela não tenha conhecido os detalhes sobre Desperatio, Rhantolk chegou à mesma conclusão, o que também pode ser uma das razões pelas quais ela estava tão fria com ele, um Emnetwyte.

Basicamente, o Emnetwyte foi modificado por algum método para produzir as 17 Bestas. Ou pelo menos, essa parecia ser a hipótese lógica. Willem não queria pensar muito sobre isso. Se fosse verdade, o ditado de que o Emnetwyte destruiu tudo na terra assumiria um novo significado. Eles não criaram apenas as coisas que destruíram a Terra, como era a crença comum, mas eles literalmente foram as coisas que destruíram a Terra. E, além disso, eles ainda assombram o mundo como símbolos da destruição.

[Não, não pode ser...].

Willem podia ver uma grande falha na teoria: não havia nenhuma explicação para a velocidade reprodutiva ridiculamente rápida comumente atribuída às Bestas. Desnecessário será dizer que transformar um ser vivo em um ser vivo completamente diferente leva uma quantidade considerável de tempo e esforço, mesmo com habilidades e técnicas excepcionais. Mesmo o lendário Vampiric levava pelo menos 3 dias para converter sacrifícios em um deles próprio com a habilidade ‘Contagion Soul’. As 17 Bestas aparentemente destruíram alguns países poucos dias depois da sua aparição inicial. Não parecia viável.

[Talvez eu esteja apenas pensando muito nisso], concluiu Willem com um aceno de cabeça.

E com isso, ele agora tinha uma coisa menos com a qual se preocupar. O que mais restava... Oh, certo, sua proposta para Chtholly.

[...].

Willem teve a sensação de que ele não seria capaz de vê-la nos olhos adequadamente por um tempo.

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[Eu irritei o conselheiro da expedição], disse o 1º técnico com uma cara triste como aquela de uma criança que foi repreendida por uma brincadeira.

[Oh, sério?], Willem respondeu, sem entender o que ele estava falando. [Nós trouxemos um conselheiro? Não me lembro de ter visto ele].

[Não nós, ele foi contratado pela Orlandri para acompanhar a expedição original. Ele é um salvager civil. Ele tem muita experiência, então eu realmente queria respeitar sua opinião, mas...].

[O que aconteceu?].

[Então, você já ouviu falar que temos de sair daqui a 5 dias, certo?].

[Sim].

Willem, que não viu particularmente nenhum apelo ‘romântico’ da terra, não tinha motivos para querer ficar mais do que o necessário. Ele adoraria sair imediatamente, mas, claro, as coisas não eram tão simples. Eles ainda precisavam verificar as condições de saúde de todos os membros da expedição, terminar de armazenar todos os bens escavados no porão e recuperar qualquer material de uso da Saxifraga que estariam deixando para trás. Ainda havia muito o que fazer.

[Devido a restrições orçamentárias e tal, não podemos prolongar a nossa estadia por mais tempo do que isso. No entanto, se voltarmos para casa com apenas as relíquias que temos agora, acabaremos com um ligeiro déficit].

[Entendo].

[Então eu decidi enviar uma equipe de escavação em larga escala no subsolo amanhã], disse o Gremian enquanto levantava seu dedo roxo, parecendo muito orgulhoso do seu plano genial. [Eu quero o exército para lidar com os bens, então a maioria dos membros são do nosso lado. Eu terei os caras da Orlandri terminando qualquer outro trabalho que precisa ser feito aqui. Você – Eu não me importo se você vier, mas o que você quer fazer?].

[Eu acho que vou passar essa. Então foi assim que você deixou o conselheiro irritado].

É claro que um conselheiro enviado pela Orlandri não gostaria muito de um plano no qual apenas o exército se beneficiaria.

[Não, não é assim]. Com os dedos roxos, o 1º técnico coçou a cabeça calva. [Ele disse que não ia subterrâneo com um grande grupo de uma só vez. Isso vai contra as teorias dele ou o que quer que seja].

[… Eu me pergunto porque].
 

[Sei lá. Perguntei-lhe por que, mas ele não me disse. Eu aposto que é apenas uma superstição. Nem todos pensam em coisas tão lógicas como nós. Sempre haverá pessoas tristes que seguem cegamente os costumes ilógicos devido às suas visões de mundo estreitas].

[Ah, então eu suponho que você também deu esse discurso ao conselheiro? Quão precipitado você é, 1º técnico].

[Está certo]. O 1º técnico arrebatado caiu nos ombros. [Eu não acredito que eu disse nada de errado. Não é como se eu quisesse necessariamente negar sua experiência e crenças. Posso pedir a você que estabeleça as coisas corretamente com ele?].

[Não me importo]. Que pé no saco, pensou Willem. [Por mais que uma pessoa veja uma coisa como correta, sempre haverá alguém que a veja como grosseiramente incorreta. Por favor, lembre-se disso].

[... Entendi]. O Gremian assentiu com um rosto amargo.

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Ao perguntar a vários trabalhadores que atravessavam os corredores, Willem ouviu que este conselheiro havia sido visto indo ao depósito para o equipamento de expedição subterrânea. As salas de armazenamento de equipamentos estavam localizadas em direção ao fundo da aeronave, e toda a área ao redor era uma bagunça completa. Willem temia ir lá de novo. No entanto, ele não podia simplesmente abandonar sua tarefa. Ele levantou um alçapão pesado, subiu uma escada enferrujada, atravessou uma sala com todo tipo de partes metálicas de origem desconhecida e se dirigiu para as camadas inferiores da aeronave.

De acordo com o 1º técnico, este conselheiro era um salvager civil bastante experiente contratado pela Orlandri. Willem tentou imaginar como essa pessoa poderia ser, mas toda vez a imagem acabou sendo Grick ou um de seus companheiros. Afinal, eles eram um grupo extremamente experiente e hábil, tendo conseguido desenterrar um dos extintos Emnetwyte e até mesmo revivê-lo.

[O conselheiro da expedição está aqui?].

Quando Willem chegou à sala de armazenamento do equipamento, ele abriu a porta semi-hermeticamente fechada e olhou em volta, apenas para encontrar Grick parado ali, envolto em um monte de equipamentos.

[... Oh?].

[… Hã?].

Os dois se olharam por um momento, com uma espécie de estranha, difícil de descrever a atmosfera entre eles.

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[A teoria que seguimos é baseada em anos de experiência], reclamou Grick, sem sequer tentar esconder seu humor perturbado. [Bem, eu admito que às vezes é fácil para a superstição se misturar. Existem algumas teorias que me parecem realmente questionáveis, como ‘se você ouvir o ruído de água no subsolo, imediatamente abaixe seus ouvidos’. Quero dizer, eu não sou um Ayrantrobos. O que eu deveria fazer?].

Bem, é melhor do que ser dito para enrolar sua cauda, pensou Willem. [Então, se essa crença é baseada na experiência, isso significa que você nunca viu um grande grupo entrar no subsolo e retornar com segurança?].

[Não é uma regra absoluta. Mas acima de 7 pessoas, a taxa de sobrevivência diminui claramente. É por isso que os salvagers civis raramente trabalham em grandes grupos].

[Entendo. Agora eu entendo por que você estava irritado], disse Willem com um aceno de cabeça. Ele se esqueceu de perguntar ao 1º técnico exatamente quantas pessoas ele planejava enviar, mas provavelmente não era menor do que 7. [Por sinal, o que é isso?].

[Uma capa de proteção contra poeira, cachecol e óculos].

[E por que você está me entregando?].

[Há uma tempestade de areia muito desagradável hoje. Ir para fora sem equipamento adequado é um pouco perigoso].

[E por que você está assumindo que eu vou sair hoje?].

[Hoje é a nossa única chance de ir ao subsolo], respondeu Grick. [Há algo que eu quero te mostrar. Nós não podemos trazer até a superfície, porém, então teremos que ir todo o caminho até aquilo].

[E por que eu tenho que seguir essa expedição chata?].

[Vamos lá, eu nunca teria pensado em encontrá-lo aqui. É o destino. Boa sorte nos foi concedida pelos Visitantes. Não gostaria que isso fosse desperdiçado].

Willem não entendia a lógica de Grick.

[- Ah, perfeito. Você também gostaria de vir, jovem senhorita?]. Grick chamou alguém atrás de Willem.

Ao imaginar que Nopht ou alguém estava lá, Willem virou-se, apenas para descobrir que era Chtholly, de costas para eles, no meio da sua tentativa de fuga. Ela lentamente se virou com um olhar em pânico no rosto.

Ih. Willem, também lembrando os acontecimentos da noite anterior, desviou o olhar, tentando não deixar nada mostrar em seu rosto.

[Se ela é sua secretária, apoiá-lo é parte do seu trabalho, certo?], Grick disse, completamente inconsciente da tensão entre Willem e Chtholly. [3 pessoas é apenas o tamanho certo para entrar no subsolo. Nós teremos menos pontos cegos, e se um de nós bagunçar, os outros dois podem cobrir. Nós também podemos colocar ajuda adicional em espera acima do solo].

Enquanto Grick divagava com alegria, pegou outro conjunto de equipamento de proteção contra poeira.

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Em algum momento nos últimos 500 anos, um grande movimento da crosta terrestre deve ter ocorrido. A estrutura subterrânea descoberta pela equipe de expedição parecia quase completamente arruinada. Numerosas paredes e tetos desmoronaram, obstruindo velhos corredores e abrindo novos. Devido a fendas nas paredes externas, toneladas de areia e água encontraram caminho, tornando os caminhos ainda mais difíceis de atravessar.

Com apenas uma pequena lâmpada de cristal iluminando o caminho, o grupo desceu para as ruínas. Grick levou-os com facilidade na confusão caótica dos corredores, demonstrando seus anos de experiência de salvager.

Cada exalação de respiração produzia uma nuvem branca enevoada. O ar ao redor deles parecia congelar seus ossos, como se estivessem passando por um gigantesco bloco de gelo. Cada vez que eles desciam em outro nível, a temperatura caía ainda mais. No 4º andar, as poças de água no chão tornaram-se manchas de gelo sólido. Ter que constantemente tentar evitar escorregar apenas piorou a situação.

[Como você pode ver, praticamente tudo na superfície desapareceu ao longo dos anos, então não é o melhor para a caça ao tesouro. Por outro lado, a maioria das coisas aqui mantidas foram preservadas na sua forma original. O verdadeiro salvamento começa quando chegamos aqui], explicou Grick.

[Pelo menos 4 andares, com cada um tão grande, hein? Difícil de acreditar que um labirinto estava escondido logo na minha cidade natal], disse Willem. Ele se perguntou se ele foi construído enquanto ele ainda vivia no orfanato ou depois que ele partiu para sua batalha final. Bem, não havia como descobrir agora, então talvez fosse uma pergunta sem sentido.

[Você está bem?].

[Sim eu estou bem].

Willem virou-se para verificar Chtholly, mas ela não parecia ter problemas com a escuridão ou a dificuldade para apoiar os pés. Não é uma surpresa, considerando que ela foi uma das poucas a ser reconhecida por Seniorious.

[Por sinal, Willem. Aquelas senhoritas...]. Grick começou.

[Hm?].

[Elas são todos boas garotas, assim como você me disse].

[Ah]. Willem imaginou que Grick estava falando sobre Nopht e Rhantolk. O próprio Willem ainda não as conhecia muito bem, mas Grick estava com elas na expedição há algum tempo. Então, se ele dizia isso, Willem não tinha motivos para duvidar dele. [Você não pode ter nenhuma delas].

[Como diabos você chegou a isso?]. Grick riu.

[Se você quiser qualquer uma delas, você terá que passar por mim primeiro].

[Eu lhe disse, não era isso do que eu estava falando. Também não seja tão sério de repente, está me assustando].

[Sobre o que vocês estão falando...]. Chtholly riu suavemente, então suspirou, deixando para trás uma pequena e branca nuvem na sala subterrânea.

[Espera, nosso caminho está bloqueado], disse Grick.

Em seu campo de visão muito estreito, levemente iluminado pela lâmpada de cristal solitária, Willem viu a figura de Grick parar de se mover. Ao espremer os olhos e espiar o caminho à frente deles, Willem viu uma montanha feita de pedaços de entulho de tamanhos variados. Se eles tentassem esmagar através da força bruta, eles poderiam acabar desmoronando o teto em cima deles mesmos.

[Bem, isso é infeliz. Eu odiaria vir todo esse caminho apenas para voltar], disse Grick.

[Até agora parecia haver muitos caminhos laterais. Não há maneira de contornar?].

[Os caminhos estão tão confusos que levará muito tempo para verificar todos eles, um por um. Além disso, há um ninho de Timere perto, então eu não quero andar demais e acordá-lo].

[Entendo...]. Willem pensou por um segundo. [Que tipo de ninho você disse?].

[Um ninho de Timere], Grick respondeu casualmente. [Eles se reúnem em grupos de 10 ou 20 e fazem ninhos subterrâneos. Normalmente, eles simplesmente dormem enquanto estão em seus ninhos, mas muito raramente um vai acordar e atacar se sentir transeuntes].

O Timere. A única Besta capaz de flutuar no ar e atacar Règles Ailés. A própria razão para a existência das fadas soldadas descartáveis. Seria possível se livrar de todos eles agora? Willem quase perguntou isso em voz alta, mas fechou a boca antes de sair algo. Se um plano tão simples pudesse ter qualquer efeito, a Winged Guard não teria usado Carillons todos esses anos.

Deveria Nephren e as outras realizar um ataque surpresa no ninho agora, enquanto temos a chance? Não, isso também estava fora de questão. Lutar no subterrâneo significaria abandonar completamente uma das vantagens mais importantes das fadas: asas. Além disso, dezenas de Timere com a capacidade de se dividir e se reproduzir rapidamente superarão em massa as fadas. Com tudo isso em mente, um ataque surpresa dificilmente lhes daria vantagem. A única vantagem de seu lado que Willem poderia pensar era que o espaço fechado junto com as Bestas, todas concentradas em um só lugar, tornaria a auto explosão extremamente eficaz. Ele não queria pensar sobre isso, no entanto.

[Hum, desculpe-me?].. A voz de Chtholly puxou Willem de volta à realidade de seus pensamentos. [Eu realmente não posso explicar meu raciocínio... Mas podemos tentar seguir esse caminho?].

Uma vez que nenhum deles queria apenas dar a volta depois de chegar até agora, eles decidiram seguir a sugestão de Chtholly. Enquanto caminhavam pelo caminho sem fim e sinuoso, muitas vezes encontraram bifurcações na estrada. No entanto, cada vez, Chtholly parou por um momento, fez um gesto como se estivesse ouvindo algo, então escolheu um caminho sem hesitação.

[Eu sinto que alguém está me chamando], ela explicou.

Willem permaneceu cético por navegar em um labirinto complexo com uma bússola tão pouco confiável, mas, visto que não tinham nada melhor para guiá-los, não havia motivo para parar a Chtholly. Eventualmente, Willem perdeu a noção do tempo. Eles pareciam caminhar para sempre e sempre até de repente, chegarem a uma sala grande e espaçosa.

[... Sério?]. Grick murmurou com espanto. [Isto é o que eu queria te mostrar].

[Huh?]. Willem deu uma olhada. [Não há nada aqui. O que você queria me mostrar?].

[Na sua frente], disse Grick.

Willem olhou para frente mais uma vez, mas não havia nada além de uma parede. Não, espera - em uma inspeção mais próxima, ele percebeu que não era uma parede, mas um pedaço de gelo colossal.

[No começo, quase todo essa sala era apenas gelo, mas nós raspamos todo o caminho até aqui depois de um trabalho árduo]. Grick bateu ligeiramente o gelo com o dedo.

Algo estava dentro. Quando Grick levantou a lâmpada de cristal, Willem pôde vê-la com mais clareza. Através do gelo anormalmente transparente, ele viu um vermelho brilhante. Willem engoliu em seco.

[… Isso…].

[Surpreso, certo? Eu também estava quando descobri. Nunca teria pensado em descobrir esse tesouro duas vezes na minha vida curta].

Dentro do gelo havia uma criança pequena, ainda mais jovem do que as pequenas no armazém de fadas. Seus longos cabelos vermelhos pareciam estar mexendo levemente ao vento antes de serem congelados no tempo. Willem não conseguiu distinguir os detalhes finos de seu rosto, mas ela parecia ter uma expressão pacífica. E então, em seu peito, uma grande ferida feita por uma espada. Ignorando isso, ela parecia viva, quase como se estivesse simplesmente dormindo pacificamente. Mas o corpo diante de seus olhos era inconfundivelmente um cadáver.

[Não é uma conhecida sua de centenas de anos atrás... É?] Grick perguntou cautelosamente.

[Ah...]. Willem verificou o rosto da criança mais uma vez. [Não, eu não a conhecia. Eu acho].

[Entendi. A condição dela é bastante semelhante à de você quando o achamos, então pensei que talvez isso significasse algo].

Grick tinha estado na mesma situação uma vez antes. Quando Willem era um pedaço de pedra congelada caído no fundo de um lago, Grick e seus companheiros salvagers o levaram e o reviveram.

[Você acha que podemos salvar ela, assim como você me salvou?].

Grick balançou a cabeça. [Fomos capazes de salvar você porque você estava apenas transformado em pedra por uma maldição e não realmente morto. Não importa como você pensa sobre isso, essa garota já se foi há muito tempo].

É justo. Nenhum humano sobreviveria tendo seu coração cortado em dois.

[Espera um segundo]. Willem acendeu um pouco de venenum e ativou sua visão mágica. [Ah, como eu pensava].

[Hm?]

[Há algum tipo de maldição nessa ferida]. Suportando a dor latejante em sua cabeça, Willem olhou mais perto. Ele claramente viu uma forte maldição esculpida profundamente nesse pequeno corpo.

[Sério?].

[Sério. Mas mesmo que retirarmos a maldição, não acho que ela volte a viver de qualquer maneira].

A maldição às vezes foi lançada em um cadáver. Eles poderiam reanimar o cadáver para servir o conjurador, fazer o cadáver contar informações, ou espalhar a maldição para familiares de sangue da vítima. Mas, claro, retirar essa maldição apenas transformaria o cadáver amaldiçoado em um cadáver não amaldiçoado, não em uma pessoa viva.

[... Hm?].

A maldição parecia familiar. Willem esticou os olhos para obter um olhar cada vez mais próximo. Parecia uma maldição de alteração ortodoxa - o tipo que poderia transformar uma pessoa em um sapo ou uma refeição em uma pedra ou coisas assim. A forma como as veias de feitiço torciam e entrelaçavam deu-lhe essa impressão. No entanto, ele ainda não conseguia se lembrar de onde ele já havia visto a maldição antes. Sua dor de cabeça latejante também estava começando a impedir seu pensamento. Willem desativou sua visão mágica.

[Eu estava pensando que poderíamos enterrá-la em um lugar mais apropriado... Mas se o corpo está amaldiçoado, acho que retirar a maldição vem primeiro lugar], disse Grick.

[Não vai vendê-la para um colecionador ou algo assim?].

[Isso parece meio errado. Ela parece tão tranquila dormindo lá, então não gostaria de interromper isso, certo? É a coisa humana a se fazer].

Quando Grick usou a palavra ‘humana’, foi estranhamente persuasivo. Willem olhou para a garota mais uma vez. [Bem, de qualquer maneira, nós temos que tirá-la desse gelo primeiro. Esse tipo de maldição preserva a condição do corpo, então, mesmo que o retiremos do gelo, não deve apodrecer ou nada do tipo].

De repente, um arrepio frio correu até a espinha de Willem.

[Hm?].

Apenas um momento depois, uma sensação inexplicável de medo brotou das profundezas de seu estômago. Ele procurou em torno descontroladamente para a causa disso. Ele achou isso rapidamente: Chtholly estava imóvel ainda com um olhar de terror em seu rosto, olhando atentamente para a garota dentro do gelo. E, além disso, Willem podia sentir o Venenum furioso que fluia de seu corpo.

[O qu-].

Enquanto ele olhava em choque para Chtholly, o azul restante em seu cabelo se transformou rapidamente no mesmo vermelho brilhante que eles viram no gelo. Chtholly Nota Seniorious estava desaparecendo diante dos olhos de Willem.

[Chtholly!? O que você está fazendo!?!]

Ele agarrou os ombros de Chtholly e a sacudiu violentamente. Ele bateu em suas bochechas de novo e de novo. Mas seu Venenum se recusou a se acalmar. Seu olhar parecia vazio. Não estava claro se ela estava consciente ou não. Se Willem não agisse agora, seria muito tarde. Ele colocou os dedos em forma de cunha e cutucou o peito dela ao lado do coração dela. Sua expressão imediatamente torcia em agonia. O golpe de Willem desordenou o fluxo sanguíneo, esmagou seus pulmões e espalhou o Venenum ardente. Sua vaga consciência foi forçada a retornar ao normal.

[Desculpe, vou explicar depois! Precisamos voltar à superfície!].

[Ahh, certo, certo]. Grick, totalmente desconcertado, mas inteligente o suficiente para deduzir o que estava acontecendo, assentiu apressadamente e começou a liderar o caminho de volta.

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