V01C02 - NESTE MUNDO CREPÚSCULO - PARTE 01


Parte 01 - O gato preto e a menina de cinza

Um gato preto estava correndo. Não estava apenas correndo, ele estava correndo a uma velocidade incrivelmente rápida. Ele atravessou os becos mais estreitos, saltou sobre as paredes mais altas e saltou graciosamente entre os topos de barracas de rua.

Esta área, conhecida como Mercado Medlei, foi criado originalmente para hospedar um mercado especial realizado uma vez por mês. Ao longo do tempo, devido a uma série de construções imprevistas e expansões de edifícios, transformou-se em um enorme labirinto, assustador o suficiente para afligir todos os recém-chegados que o atravessam.

Através deste labirinto gigantesco, o gato preto acelerou a toda velocidade. Por que o gato estava correndo, você pergunta? Estava tentando escapar. Escapar do que, você pergunta? Seu perseguidor é claro.

[E-Espera!], gritou o perseguidor, tentando desesperadamente manter-se com o pequeno demônio rápido. A jovem se espremeu ao atravessar os becos mais estreitos, rolou desajeitadamente sobre os muros mais altos e caiu sobre o topo das barracas de rua (enquanto recebia gritos dos proprietários da loja). Apesar da luta, ela manteve seus olhos azuis concentrados em frente, com a intenção de pegar o gato preto.

A menina usava uma roupa bastante simples: um chapéu cinza desgastado que quase cobria seus olhos e um casaco da mesma cor. A julgar por essa combinação, ela provavelmente queria se destacar o mínimo possível, mas ela gritava com o gato e corria como um homem louco desfeito o que afetava suas escolhas de roupas.

[Eu disse... Espera...]. A bainha de seu casaco flutuava para cima e para baixo, a menina continuou sua perseguição, chutando nuvens de poeira e espalhando latas vazias de tinta no chão por onde passava. Atravessando as ruas a uma velocidade tão terrível, a menina chamou a atenção de várias pessoas: um Orc que vende bens diversos, o escamoso Reptrace dono de uma loja de tapete, e um grupo de Licantropos que estava passando.

Então, de repente, o gato preto paralisou em seu curso.

[Peguei!]. A menina deu um grande salto para frente, não querendo perder essa oportunidade inesperada. Quando ela se aproximou, quase ao alcance, o gato preto se virou, revelando um brilhante objeto de prata perto da boca. A menina esticou os braços e abraçou a tão procurada presa.

Antes de ter uma chance de comemorar, no entanto, uma sensação de flutuação não natural envolveu todo o seu corpo. Então, ela notou: não havia nada sob seus pés.

[Eh?].

Sua visão do Mercado Medlei girou e girou em um borrão confuso de cor. A menina percebeu alguns momentos mais tarde que, cegada pela visão de sua presa tão perto, ela não percebeu que o caminho que ela estava correndo havia saído para o telhado de um complexo de apartamentos.

[Ah...].

O grande céu azul, pontilhado com algumas nuvens brancas, encheu seu campo de visão. Ainda abraçando o gato preto, a jovem voou pelo ar. Diretamente abaixo, ela viu o 7º Distrito Comercial Ocidental Briki, cujas barracas se especializavam principalmente em panelas de metal duro e facas de cozinha muito afiadas. Ajustando pelo alto dos prédios, ela calculou uma distância de 4 andares até tocar o chão.

A menina reuniu suas forças e conseguiu produzir um leve brilho ao redor do corpo dela. Aqueles com a habilidade de visualizar veias mágicas teriam visto o ‘Venenum’ dentro de seu corpo tentando desesperadamente inflamar. Mas, não importa o que ela planejasse fazer com o ‘Venenum’, já era tarde demais.

O ‘Venenum’ é uma substância semelhante a uma chama. Uma pequena faísca não pode fazer muita coisa, mas se ela for como um inferno ardente pode conter um tremendo poder. Para obter uma chama desse nível, no entanto, leva uma grande quantidade de tempo e energia. Em outras palavras, o ‘Venenum’ não tem muito uso para responder a situações súbitas e incessantes, como a da menina naquele instante.

Os dois corpos, um humano e um gato, continuavam a cair. A fraca luz que irradia da menina inutilmente dançava no ar antes de desaparecer. Ela nem teve tempo de gritar. O pavimento de pedra, que parecia tão distante há um momento atrás, se aproximou a um ritmo alarmante. Ela inadvertidamente abraçou mais forte o gato, que soltou um grito. Desamparada contra a atração da gravidade, a menina fechou os olhos e preparou-se para o impacto.


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Uma menina caiu do céu. A julgar pela aparência, ela provavelmente estava no início da adolescência e também estava caindo bem rápido. A essa altura, ela logo teria uma colisão violenta com as ruas cobertas de pedra, deixando uma cena horrível imprópria para um pacífico início da tarde.

Essa visão foi a primeira coisa que veio aos olhos de Willem quando ele inclinou sua cabeça para cima. Antes que seu cérebro tivesse a chance de processar completamente a imagem, suas pernas já se puseram em movimento, como se agissem sozinhas. Ele correu diretamente sob a trajetória da menina e estendeu os braços, pronto para a captura.

Willem logo descobriu que ele havia subestimado severamente o impulso com que a menina caiu. Seus braços inúteis incapazes de suportar a tremenda força do impacto, Willem entrou em colapso embaixo do corpo da menina, soltando um grito semelhante a um sapo esmagado.

[Ai...], ele gemeu com o pouco ar que ele conseguiu.

[D-Desculpa!!].

A menina, que finalmente pareceu ter entendido a situação, saltou e começou a entrar em pânico.

[Você está machucado!? Você está vivo!? Algum órgão esmagado !? V-].

A garota confusa conseguiu esquecer completamente o gato preto que ainda estava em seus braços, que aproveitou esta oportunidade para escapar. A menina tentou usar seus reflexos para tentar agarrá-lo, mas naquele momento, tudo o que podia agarrar era ar. O gato só precisava de um atraso momentâneo para desaparecer na multidão agitada que os cercava.

Um grito surgiu da boca da menina, meio frustrada por perder o animal que começou toda a bagunça, e meio surpresa quando percebeu o que aconteceu com a aparência dela. Em algum lugar ao longo do caminho, durante o seu ataque furioso ou durante a queda livre, o chapéu que ela estava usando para cobrir sua face caiu. Os cabelos azuis, previamente escondidos, caíram pelos ombros.

Ei, olhe para ela.

Ela ouviu sussurros de todos os lados; os pedestres e lojistas do 7ª Distrito Comercial Ocidental Briki que fizeram uma pausa em seus negócios para encarar o rosto e o cabelo da menina.

Neste grupo de ilhas flutuantes, coletivamente conhecidas como Règles Ailés, vivem várias raças, todas distantes em relacionadas aos ‘Visitantes’. Claro, com esta variedade de raças vem uma variedade de aparências. ‘Alguns têm chifres que saem de suas cabeças, alguns têm dentes salientes das suas bocas, alguns têm escamas cobrindo todo o seu corpo, e alguns têm rostos que parecem uma mistura aleatória de diferentes animais selvagens’.

Dentro dessa variedade, uma pequena fração de raças não têm chifres, dentes salientes, escamas ou outras partes semelhantes a uma fera, mas elas ainda existem. Essas raças sem qualquer característica especial, ou ‘marca’, das quais sua identidade pode ser facilmente discernida, são comumente conhecidas como ‘sem marca’.

Por que ela está aqui?

Porra, isso me causará má sorte.

Geralmente, os ‘sem marca’ são evitados pelas outras raças. De acordo com uma antiga lenda, a raça conhecida como seres humanos, ou Emnetwyte, causaram estragos na vasta terra abaixo o que levou todas as outras raças irem para o céu. Uma vez que o Emnetwyte se pareça muito às raças ‘sem marca’, e só faz sentido que aqueles que parecem semelhantes devem agir de forma semelhante, os sem marca foram marcados como sinistros e impuros. Enquanto as perseguições devido à raça raramente aconteceram, ser exposto publicamente como ‘sem marca’, naturalmente faria a garota se sentir envergonhada.

Havia também outra coisa, completamente fora do controle da menina, o que, infelizmente, tornou a situação ainda pior para ela. O prefeito anterior desta cidade, um exemplo perfeito de um político corrupto, aceitou subornos, contratou assassinos para eliminar adversários políticos e, em geral, trouxe todos os aspectos da cidade sob seu controle estrito. Eventualmente, o Congresso Central o expulsou da ilha e todos viveram felizes para sempre... Mas esse prefeito acabou por ser um Diabrete. Diabretes fazem parte de um subconjunto de Ogros, que costumavam se esconder entre o Emnetwyte e atraí-los para a depravação. Como resultado, eles desenvolveram uma aparência muito semelhante aos humanos e às outras raças ‘sem marca’. Agora, sempre que as pessoas desta cidade veem um ‘sem marca’, não podem deixar de lembrar-se de sua raiva e ódio contra o prefeito anterior.

Ainda que ninguém houvesse atacado verbalmente ou fisicamente ela, a menina sentiu os olhares de julgamento das pessoas da cidade a perfurando como espinhos em seu rosto.

[Tudo bem, eu vou embora logo, então não se preocupem...].

A menina levantou-se e tentou fugir dos olhares, mas descobriu que não podia mexer um centímetro. Willem, ainda deitado no chão, tinha se agarrado ao pulso da menina.

[Você esqueceu algo]. Ele estendeu a outra mão e deixou cair um pequeno broche na palma da menina.

[Ah...].

[Aquele gato preto derrubou isso. Você estava perseguindo isso, não estava?].

A menina lentamente acenou com a cabeça.

[O-Obrigado]. Ainda um pouco desconcertada em toda a situação, ela cuidadosamente envolveu o broche em ambas as mãos e aceitou.

[Você é nova nesta área?].

A menina assentiu de novo.

[Entendo... Bem, então não há muito que se fazer]. Willem disse com um suspiro. Ele rapidamente se levantou, tirou o manto, e colocou sobre a cabeça da menina, deixando-a sem tempo de se opor. Seu capuz agora desapareceu, a aparência de Willem foi revelada às pessoas vizinhas. Mais uma vez, uma onda de agitação ondulou na multidão, mas desta vez os olhares foram direcionados para Willem.

[Eh...]. A menina soltou um suspiro surpreso.

Enquanto Willem não conseguia olhar para o próprio rosto, ele obviamente sabia muito bem como ele se parecia. Então ele entendeu o que a multidão de pedestres e a garota que estava estupefata à sua frente acabavam de ver. Cabelo preto desgrenhado. Sem chifres. Sem dentes salientes. Sem escamas.

[Vamos].

Ele agarrou a mão da menina e avançou pela rua a passos largos. A menina, confusa, seguiu-o. Eles rapidamente deixaram as ruas e encontraram uma loja de chapéus nas proximidades, onde Willem comprou algo para cobrir a cabeça da garota.

[Isto deve ser bom o suficiente].

Embora possa ter sido um pouco grande demais, o chapéu parecia surpreendentemente bom para ela. Willem deu um aceno de satisfação e retomou sua capa.

[Hmm... O que é isso...?], perguntou a garota timidamente, finalmente conseguindo reunir o juízo.

[Para as outras pessoas não poderem dizer que você é uma ‘sem marca’, é claro].

Enquanto os ‘sem marca’, como Willem e a jovem, eram geralmente evitados pelo público, eles não eram exatamente odiados. Contanto que você evite fazer qualquer coisa muito chamativa, as pessoas geralmente deixarão você em paz. No entanto, foi sempre melhor passar despercebido.

[Eu não sei de qual ilha flutuante você veio, mas esse lugar não é muito amigável aos ‘sem marca’. Faça rapidamente o que veio fazer aqui e saia deste lugar. O porto está por ali], disse Willem, apontando para o outro lado da rua.

[Se você não se sentir segura, eu posso liderar o caminho], sugeriu Willem.

[Ah... Não... Não é isso...], a menina murmurou.

Willem teve dificuldade em ler a expressão da menina. Além da grande diferença de altura, o chapéu sobre dimensionado cobria seu rosto, que fazia um grande disfarce, impediu suas habilidades de comunicação.

[Você é... Um ‘sem marca’?].

[Isso mesmo... Você viu meu rosto há alguns minutos atrás], confirmou Willem, dando um ligeiro assentimento debaixo do capuz.

[Por que você está aqui então? Esta ilha é a mais hostil aos ‘sem marca’ em todo o sudoeste de Règles Ailés, não é?].

[Você pode se acostumar a viver em qualquer lugar, eu acho. É verdade que vários inconvenientes aparecem frequentemente, mas se você se acostumar com isso, este lugar pode ser bastante confortável], ele respondeu.

[Se você sabe sobre isso, por que você veio aqui?], perguntou Willem.

[Bem... É por que...].

A menina claramente não sentiu vontade de responder. Willem quase sentiu pena de fazer a pergunta. Ele suspirou e começou a caminhar, gesticulando para a garota seguir. Ela não se moveu.

[O que foi agora? Não quer ficar para trás, não é?].

[H-humm... Muito obrigada... Por tudo], a menina disse com uma voz frenética, seu rosto meio escondido debaixo daquele chapéu gigante. [E por qualquer problema que eu causei... Desculpe. Também... Hum... Não estou em posição de dizer isso... Mas... Ah...].

Willem coçou a cabeça.

[Você que ir para algum lugar? É isso?], perguntou Willem.

A expressão da menina de repente iluminou ao ouvir essas palavras - provavelmente. Ele só podia ver a metade inferior de seu rosto, então ele não poderia ter certeza.


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Como a menina descobriu anteriormente, as ruas em torno do Mercado Medlei são um pouco difíceis para se orientar. Mesmo que você possa ver exatamente aonde você quer ir, você pode muito bem acabar perdido depois de uma série de desvios imprevistos.

Os dois estavam no topo da Torre Garakuta, o ponto mais alto da ilha, depois de uma jornada bastante longa e cheia de acontecimentos pelo labirinto das ruas. Apesar de Willem ser um local, eles acabaram tendo que perguntar a uns golems públicos, guardas automatizados instalados nas ruas pelo governo, para obter instruções. As junções que Willem lembrou ter três ruas acabaram divergindo em cinco caminhos diferentes. Eles acidentalmente se depararam com um Frogger tomando banho, foram perseguidos por uma vaca furiosa, escapando com sucesso da vaca apenas para caírem em um galinheiro e correrem por suas vidas, pedindo várias desculpas ao irritado Ballman, o dono das galinhas.

Em suma, chegar a qualquer lugar nesta cidade é uma luta. Pelo lado positivo, Willem notou que a menina se soltou um pouco durante suas aventuras pelas ruas. Ela ria e fazia comentários divertidos depois de cada incidente desastroso ou fuga. Willem não podia dizer se aquilo era a verdadeira personalidade dela ou se ela era afetada pelo ridículo de suas diversas dificuldades, mas de qualquer maneira ele preferia a extrema introversão de antes.

A menina inclinou-se sobre a grade frágil na borda da torre e soltou um suspiro de admiração. Quando visto a partir desta altura, a cidade movimentada abaixo parecia uma pintura bela e minuciosa. O complexo sinuoso de ruas que se estendiam através da vista parecia expandir-se livremente por conta própria, como se estivesse vivo e não fosse simplesmente planejado por trabalhadores da construção há anos atrás.

Levantando sua linha de visão um pouco trouxe o porto à vista. Situado na extremidade mais externa da ilha, atuava como uma entrada, proporcionando as instalações necessárias para aeronaves pousarem e decolarem. Além do porto coberto de metal, o enorme céu azul se espalhava em todas as direções, tanto quanto a garota podia ver.
 

Este céu, onde mais de uma centena de pedras gigantes de rocha, chamadas de 'ilhas flutuantes', vagam pelo vento, fornece o único santuário onde as pessoas podem viver. A terra onde a vida se originou agora fica muito abaixo, para sempre fora de alcance.
[Algo errado?], perguntou a menina, virando-se para olhar para Willem.

[Oh, nada, apenas admirando a visão]. Ele balançou a cabeça e respondeu com seu habitual sorriso caloroso.

A menina riu suavemente, então, depois de confirmar que ninguém mais estava por perto, tirou o chapéu. Seu cabelo, que compartilhava o mesmo azul com o céu em torno deles, soltou-se fluindo com vento.

[É por isso que você queria vir aqui? Pela vista?].

[Sim. Eu vi ilhas dos lugares mais acima ou mais longe do que isso antes, mas eu nunca tive a chance de olhar para baixo sobre uma cidade bem no meio dela até agora].

Ela deve viver em uma ilha perto da borda
, pensou Willem.

[Eu pensei que seria bom tentar uma vez]. A menina fez uma pausa por um momento, voltando o olhar para aquele céu azul sem fim, então continuou:

[Hmm... Os meus sonhos se tornaram realidade e eu fiz boas lembranças. Eu não acho que tenho mais arrependimentos para deixar para trás].

Ela diz algumas coisas muito sinistras...

[Obrigada por hoje. Quero dizer], a menina continuou.

[Eu consegui ver muitas coisas maravilhosas, tudo graças a você], disse a menina.

[Eu acho que isso é um pouco exagerado]. Willem coçou a cabeça. Para ele, os eventos do dia eram como encontrar um gatinho estranho ao lado da rua e levá-lo para uma caminhada. Ele simplesmente passou algum tempo livre, então ele fez algo diferente para uma mudança. Parecia um pouco estranho agradecer apenas por isso.

[Então... É a sua escolta?], perguntou Willem.

[Hã?].

Willem assentiu na direção atrás da menina. Ela se virou e soltou um pequeno grito, seu rosto uma mistura de surpresa e confusão. Havia um Reptrace grande e ameaçador, até agora despercebido pela menina.

Em comparação com outras raças, a escala abrangida pelos Reptraces é conhecida por ter uma grande variedade de tipos de corpos. Enquanto a média de Reptrace pode ser do mesmo tamanho que a maioria das outras raças, ocasionalmente há aqueles que só crescem ao tamanho de uma criança pequena e, no outro extremo do espectro, terá uns tão gigantescos que são quase cômicos.

O Reptrace que estava diante deles obviamente pertencia ao último grupo. Ficando parado ali, envolto em seu uniforme militar, ele emitiu um intenso ar de intimidação.

[- Eu acho. Foram bons momentos... Foi quase como um sonho. Mas eu tenho que acordar agora], disse a garota com um tom agridoce.

Ela se virou e, antes de correr para o lado do Reptrace, disse uma última coisa a Willem:

[Só há mais uma coisa que eu quero pedir a você... Por favor, me esqueça].

O quê? Willem ficou ali, incapaz de encontrar as palavras certas para responder. Ele sabia que a menina obviamente tinha algumas circunstâncias especiais. Mas do que ele conseguiu reunir, essas circunstâncias não pareciam particularmente envolver qualquer tipo de sofrimento. Nesse caso, não havia necessidade de Willem se envolver. Se o proprietário original do gatinho aparecer, não há mais necessidade de acompanhá-lo em sua caminhada.

A jovem virou-se uma última vez e abaixou a cabeça em um gesto de agradecimento, depois desapareceu abaixo ao lado do Reptrace.

[Quando eles caminham lado a lado... A diferença de altura realmente se destaca], murmurou Willem enquanto os observava ir.

Tocando longe, no porto, a melodia de um carrilhão de sinos sinalizou o início das horas da noite.

[Hmph... Já esta tão tarde, huh?].

Muito em breve, ele tinha um compromisso com alguém. Willem olhou uma última vez para as ruas pitorescas abaixo e o céu azul que abrangia, em seguida, partiu para a cidade movimentada, mais uma vez.


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526 anos se passaram desde que os Emnetwyte foram extintos. Não há registros confiáveis sobre o que ocorreu na terra. Os livros de história contêm várias causas, todas alegando serem verdadeiras, mas ninguém sabe com certeza se uma delas contém um pingo de verdade, todos eles podem ser apenas a especulação de historiadores que nem estavam vivos durante os eventos que aconteceram. No entanto, existem alguns pontos consistentes em vários livros.

Em primeiro lugar, o Emnetwyte, ou os humanos, levaram vidas difíceis. Durante muitos anos eles prosperaram, crescendo de forma selvagem em número e espalhando-se pela terra. Mas, eventualmente, isso seria sua queda, pois sua ampla gama os deixou expostos a ataques de outras raças. Eles enfrentaram ameaças constantes dos ‘monstros’, um nome coletivo para várias criaturas selvagens perigosas. Os Demônios e seu Rei Demônio tentaram atrair os seres humanos para o caminho da corrupção. Os Skirmishes com os Orcs e Elfos muitas vezes entraram em disputas territoriais. As ameaças vieram de dentro também: grupos de seres humanos tornaram-se amaldiçoados e transformados em Ogros, que então se voltavam contra sua antiga espécie. Muito raramente, os humanos também enfrentaram ataques de seus inimigos mais fortes, os ‘Visitantes’.

Além disso, o Emnetwyte era uma das raças mais fracas. Não tinham escamas, presas, garras ou asas, e não podiam exercer uma poderosa magia. Mesmo a sua capacidade para se reproduzir rapidamente, um dos seus pontos mais fortes, não foi nada em comparação com o Orc’s. Apesar disso, os seres humanos ainda governaram grande parte da terra de alguma forma.

De acordo com uma teoria, grande parte de sua força militar veio de um grupo de soldados voluntários chamados de ‘Aventureiros e a Aliança’, uma organização que coordenou e apoiou as atividades dos ‘Aventureiros’. Eles melhoraram sua eficiência de batalha em grupo, dividindo soldados em diferentes classes e identificando vários talentos para gerenciar melhor o treinamento. Eles até conseguiram selar habilidades mágicas, extremamente raras entre os seres humanos, em encantos especiais chamados de ‘talismãs’ para a replicação em massa. Com estes vários métodos de melhoria, os ‘aventureiros’ tornaram-se uma formidável força de combate em comparação com outros humanos comuns.

Uma teoria diferente propõe a existência de outro grupo de soldados chamado de ‘Braves’, separado dos ‘Aventureiros’. Estes ‘Braves’ supostamente transformaram o carma e o destino que residiam em suas almas em um poder enorme e quase ilimitado. O único problema era que apenas alguns poucos escolhidos poderiam ser ‘Braves’.

Outra teoria supõe que os ‘Emnetwyte’ contaram com um tipo especial de espada chamado de Carillon. Essas armas continham dezenas de talismãs, cujos vários poderes causaram um efeito complexo de interferência mútua, resultando em capacidades destrutivas incomparáveis.

É claro que todas essas teorias parecem absurdas, e você teria dificuldade em encontrar alguém que realmente acreditasse em qualquer uma delas. No entanto, o fato é que os Emnetwyte desprovidos de qualquer talento, tinham algum tipo de método para derrotar os inimigos fortes que enfrentavam. Levando isso em consideração, pelo menos algumas verdades podem ser misturadas nessa confusão de teorias.

Há 527 anos, no castelo real do Império Sagrado, o ponto central do território humano, elas apareceram. Em relação ao que eram, ou melhor, o que são, os livros de história possuem várias teorias. Por exemplo, foram a materialização de uma maldição originada entre humanos. Ou que uma arma secreta de destruição em massa em desenvolvimento saiu do controle. Ou que, por algum motivo, uma entrada para o inferno se abriu e seus conteúdos foram derramados no mundo. Ou que um mecanismo de purificação de si mesmo, que permanecia adormecido no fundo do abismo desde a criação do mundo, despertou de repente.

Depois de sua aparição, muitas pessoas jogaram fora as suas próprias ideias selvagens, meio de brincadeira, mas poucos trabalharam para realmente determinar quais teorias tinha qualquer validade. Em sua mente, o mundo estava prestes a terminar, e nenhuma teoria mudaria isso. Mesmo que o ‘um tomate solitário em um campo de batatas não podia suportar a solidão e passou por uma super evolução’ teoria provou ser correta, ela não teria qualquer efeito sobre seus poucos dias restantes.

Tudo o que importava era que elas eram invasores. Elas eram assassinas. Elas simbolizavam a própria essência da irracionalidade e da injustiça. Tomando a forma de 17 diferentes espécies de Bestas, elas começaram a devorar o mundo a uma velocidade assustadora. Os ‘Emnetwyte’s’ não podiam fazer nada para resistir a essa nova ameaça. Em apenas alguns dias, 2 países inteiros desapareceram do mapa. Na próxima semana, 5 países, 4 ilhas e 2 oceanos deixaram de existir. Depois de mais uma semana, um mapa não tinha mais nenhum significado. Dizem que nem 1 ano se passou entre a aparição delas e a extinção dos humanos.

As Bestas não diminuíram a velocidade depois de destruir os ‘Emnetwyte’. Os Elfos lutaram para proteger suas vastas florestas e morreram. Os Moleians lutaram para proteger suas montanhas sagradas e morreram. Os Dragões lutaram para proteger sua dignidade como os seres vivos supremos da terra e morreram.

Tudo na superfície da Terra simplesmente desapareceu, como se fosse uma piada cruel. Logo, as raças ainda vivas perceberam: não havia futuro para eles ali. Se desejassem viver, eles teriam que escapar para uma terra distante. Para um lugar onde as presas selvagens das bestas não os alcançariam mais. Para o céu.

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